Uma revista de pesquisa antropológica internacional realizou uma pesquisa sobre a quantidade de pessoas que se identificavam como “therian”, encontrando o número referente a 5% das pessoas entrevistadas. Se você não tem a mínima ideia do que isso significa, saiba que são aquelas pessoas que se identificam como animais ou que sentem uma ligação (emocional, biológica e/ou espiritual) com eles. Algumas delas inclusive utilizam órios que simulam partes anatômicas de animais, como próteses de cauda, orelhas, patas e focinho.
O termo “therian” deriva de “Theria”, uma subclasse de mamíferos, e ou a ser utilizado no contexto moderno para descrever pessoas que se sentem, de alguma forma, ligadas a um animal não humano. Essa ligação pode assumir formas espirituais (como uma crença em uma alma animal), psicológicas (como uma identidade interna animal), ou simbólicas.
A literatura psicológica contemporânea não reconhece, de forma unânime, a therianthropy como uma patologia. O critério essencial para a classificação de qualquer condição como transtorno mental reside no grau de sofrimento psíquico e prejuízo funcional que ela acarreta. Se o indivíduo therian consegue viver de forma saudável, manter relações sociais e cumprir responsabilidades sem sofrimento ou prejuízos, sua identidade pode ser considerada uma forma excêntrica, mas não patológica, de expressão.
Contudo, quando a identificação animal é acompanhada de isolamento social, sofrimento emocional, incapacidade de diferenciar fantasia de realidade ou comportamento autodestrutivo, há indícios de que um acompanhamento profissional pode ser necessário.
Com o advento das redes sociais e a cultura da hipervisibilidade, muitas identidades marginalizadas ou não convencionais ganharam espaço para expressão. Isso tem aspectos positivos, como a promoção da diversidade e da não violência. No entanto, surge um dilema: a normalização de comportamentos que poderiam indicar sofrimento psíquico pode ser romantizada ou celebrada como “autenticidade”.
A linha entre representatividade e celebração de um possível distúrbio é tênue. Quando a mídia apresenta, sem critério ou filtro crítico, pessoas que correm de quatro pelas ruas, em trajes de animais, ou se recusam a interagir com o mundo humano, há o risco de se apagar a diferença entre expressão subjetiva e dissociação da realidade.
Fenômeno semelhante pode ser observado entre pessoas que tratam bonecos “reborn” como bebês reais. Em muitos casos, isso funciona como uma forma de elaboração do luto ou da infertilidade. Contudo, quando o vínculo com o boneco substitui completamente as relações humanas ou se torna obsessivo, o sinal de alerta deve ser considerado.
O discurso contemporâneo de aceitação irrestrita à diversidade pode, quando levado ao extremo, conduzir à perda de referenciais sociais e éticos. A pergunta central a a ser: até onde a liberdade de expressão deve ir antes de comprometer o bem-estar do indivíduo e da coletividade? A defesa da diversidade não pode ser confundida com a negação da realidade objetiva ou da existência de sofrimento psíquico.
A humanidade é diversa, e essa diversidade deve ser respeitada. Contudo, é papel da sociedade, da ciência e da cultura encontrar um ponto de equilíbrio entre acolhimento e discernimento. Nem tudo o que é diferente é doentio, mas tampouco tudo o que é excêntrico é inofensivo. A sensibilidade para distinguir entre identidade e sofrimento é o que nos permite construir uma sociedade verdadeiramente humana, onde a empatia não exclui a responsabilidade e onde a liberdade não anula o cuidado.
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