Nos tempos atuais, somos todos expostos, avaliados e, muitas vezes, escolhidos ou descartados como produtos em uma vitrine. Esse fenômeno é especialmente evidente nas redes sociais, onde as pessoas buscam se vender como boas pessoas — atraentes, interessantes e notáveis — a fim de serem lembradas, iradas e, quem sabe, comentadas. Nesse contexto, surge uma espécie de “lista metafórica” de atitudes e comportamentos que muitos tentam seguir para se encaixar nesse ideal de “boa pessoa”.
No entanto, como tudo na vida, esse fenômeno também possui um lado sombrio. A exposição excessiva leva as pessoas a tentar repetir padrões que parecem estar funcionando para outros. Isso pode causar danos significativos, especialmente em áreas sensíveis como saúde, biotipo corporal e gerenciamento emocional. A busca incessante por popularidade e relevância faz com que muitos se sintam compelidos a seguir padrões estéticos, comportamentais e de estilo de vida que, ao invés de promoverem bem-estar, geram frustração e insegurança.
O problema se agrava com o apelo constante por popularidade. Muitos se tornam figuras ageiras de destaque, viralizando rapidamente por situações ridículas ou espalhafatosas. Em alguns dias, essas pessoas desaparecem para depois ressurgirem com conteúdo semelhante — tudo em busca de um novo ciclo de engajamento. Essa repetição de atitudes revela a superficialidade do processo e, muitas vezes, a falta de um senso de identidade próprio.
Outra parte da “lista” são as qualidades que as pessoas sentem a necessidade de ostentar publicamente. Ser apaixonado por animais e plantas, ouvir determinado estilo de música, seguir padrões de moda específicos, apoiar causas populares e compartilhar posições políticas bem definidas. Tudo isso se torna uma espécie de “selo de aceitação social”, uma forma de dizer ao mundo: “Eu sou uma pessoa legal, me aceitem”.
Contudo, o custo dessa aceitação é frequentemente a angústia e o vazio existencial. A pressão por se manter relevante e irado pode ser devastadora. Quando não se atinge o nível de aceitação esperado, surgem crises de ansiedade, transtornos emocionais e, em casos mais graves, um sentimento de inutilidade. A busca pela aprovação externa transforma a experiência digital em um ciclo interminável de cobranças internas.
Para romper com esse ciclo, é necessário refletir sobre a própria identidade e sobre o que realmente nos faz sentir plenos e realizados. Ser uma boa pessoa não está atrelado a listas de exigências ou padrões sociais mutáveis. Trata-se de cultivar virtudes verdadeiras, como empatia, generosidade e respeito ao próximo, independentemente de qualquer visibilidade ou aprovação pública. A verdadeira felicidade e o bem-estar vêm de uma autoimagem saudável e de um senso de valor intrínseco, e não do número de curtidas ou comentários em uma postagem.
Wesley Santos
Professor, Escritor, Pesquisador
